O Uso de Aparelhos Auditivos e a Importância da Reabilitação Pós-Adaptação

Os Aparelhos Auditivos devem proporcionar conforto e audibilidade, permitindo com que o indivíduo consiga superar grande parte de suas dificuldades na comunicação, decorrentes da perda de audição. Contudo, mesmo com uma adequada seleção adaptação dos aparelhos auditivos e com todos os recursos tecnológicos disponíveis para facilitar a inteligibilidade de fala, nas situações mais desafiadoras, ainda é frequente a queixa: “ouço, mas não entendo”, dependendo do tipo, grau e tempo de existência da perda auditiva. Muitos usuários ainda demonstram dificuldades para compreender o que está sendo dito, sobretudo em ambientes com barulho ou com grandes grupos de pessoas.

Entretanto, isso não significa que os aparelhos auditivos não estejam oferecendo benefícios, mas sim, que o indivíduo precisará reaprender a ouvir com o som amplificado, em virtude do tempo que permaneceu sem ouvir bem. Um longo período de privação sensorial, quase sempre culmina na perda de habilidades auditivas importantes para o reconhecimento de fala, tais como: memória auditiva, atenção, discriminação e localização dos sons.

O Processo de Reabilitação Auditiva

É possível treinar o cérebro para desenvolver novamente essas habilidades. Para isso é fundamental que o indivíduo, além de fazer uso frequente de seus aparelhos auditivos, seja também submetido a um processo de reabilitação auditiva, preferencialmente, no período pós-adaptação imediato ou ainda durante o período de aclimatização. Esse processo visa, através de estimulação auditiva frequente e específica, auxiliar o indivíduo a adaptar-se mais facilmente ao uso de amplificação e à sua nova condição de escuta, sobretudo a superar os obstáculos iniciais que podem estar associados ao longo período de privação sensorial. O treinamento auditivo pós-adaptação pode ser realizado dentro e fora de cabina acústica e de maneira formal ou não formal.

A estimulção deve ser feita em diversas sessões, com o objetivo de otimizar os efeitos concedidos pela amplificação, reduzindo, assim, as dificuldades de aceitação do som amplificado, melhorando a percepção auditiva e comunicação em ambientes ruidosos.

reabilitação auditiva consiste inicialmente em fornecer informações sobre a utilização das próteses auditivas, o manuseio, os cuidados, a limpeza, as vantagens e limitações, expectativas, além de dicas e estratégias facilitadoras da comunicação, para que o usuário sinta-se seguro e confiante no uso da prótese.

O Treinamento Auditivo

Posteriormente, é importante a realização de um treinamento auditivo formal, em cabina acústica, com o objetivo de estimular a audição na presença de ruído competitivo, para melhorar a percepção e o reconhecimento de fala. Para tal, podem ser utilizadas diversas atividades de fala, com exercícios específicos para treinar e estimular essas habilidades – atenção, localização, memória auditiva, discriminação auditiva.

treinamento auditivo tem como base a plasticidade cerebral, isto é, a capacidade do tecido neural e das vias auditivas centrais de reorganizarem e alterarem a função em resposta a estimulação auditiva. Após a rigorosa estimulação proporcionada pelo Treinamento Auditivo, ocorrem mudanças no desempenho auditivo. Assim, um treino frequente auxilia a melhorar o entendimento e o reconhecimento da fala, tanto em ambientes silenciosos como ruidosos.

É necessário que o usuário e sua família tenham clareza de que, todos, profissionais, usuários e seus familiares, podem e devem ter uma participação ativa dentro do processo de reabilitação auditiva, para que os resultados sejam satisfatórios.


Raquel Munhoz, Fonoaudióloga Especialista em Audiologia Clínica e Responsável Técnica no Núcleo de Audiologia.