As mudanças na tecnologia, seus efeitos no perfil dos usuários de aparelhos auditivos e os novos desafios do fonoaudiólogo
Os avanços em tecnologia, sobretudo na área de telecomunicações, interferem direta e positivamente na área da saúde como um todo e também na indústria de aparelhos auditivos, culminando numa sensível mudança nesse setor.
De um lado temos os rápidos avanços tecnológicos, tais como os recursos de armazenamento de dados nas nuvens, tecnologia de dispositivos móveis e de conectividade sem fio, que atualmente estão disponíveis em equipamentos auditivos e podem ser utilizados na rotina clínica do fonoaudiólogo especialista em audiologia, para beneficiar usuários de aparelhos auditivos. De outro lado observamos que o acesso à toda essa tecnologia, através do uso cada vez mais frequente de dispositivos móveis entre adultos e idosos, permite que as pessoas coletem e acessem informações de qualquer lugar, fazendo com que elas também sofram os efeitos dessas mudanças rapidamente, o que altera bruscamente seu perfil e estilo de vida.
Cada vez mais as pessoas acima de 50 anos utilizam-se de tecnologia em seu dia a dia, o que as torna muito mais conectadas, melhor informadas e exigentes.
Como resultado disso, os pacientes candidatos ao uso de próteses auditivas chegam até seus audiologistas com expectativas muito mais elevadas sobre produtos e serviços, além de serem mais ativos na sua forma de dialogar e mais interativos ao receberem cuidados. Esse comportamento tem efeitos crescentes e funcionam como pressões regulatórias sobre a indústria de próteses auditivas e seus distribuidores, para que ofereçam produtos e serviços cada vez mais tecnológicos, customizados e com resultados eficientes e baseados em evidências clínicas.
Atualmente recursos do tipo datalogging, vem tornando-se cada vez mais refinados, trazendo dados da vida do usuário em tempo real e detalhando informações sobre seu estilo de vida, e sobre os tipos de ambientes sonoros mais frequentados por ele. O maior acesso a essas informações acústicas detalhadas cria também uma mudança significativa no raciocínio clínico e na comunicação entre paciente/audiologista.
Com mais dados disponíveis, agora acessíveis tanto aos profissionais como aos usuários de próteses auditivas, há um maior engajamento do usuário no processo de reabilitação. Sendo assim, o processo de adaptação tende a sair do tradicional modelo médico, onde a informação vem do paciente para o profissional, migrando para um modelo mais colaborativo, em que o profissional de saúde auditiva também pode auxiliar o paciente ao detalhar melhor informações sobre seu estilo de vida e preferências acústicas, já que a tecnologia dá conta de fazer essa análise de forma mais refinada.
O profissional baseia-se em um nível melhor de percepção acústica nos diferentes ambientes sonoros, para otimizar os ajustes ao estilo de vida único daquele paciente. Assim, é possível reduzir significativamente a resolução de problemas por tentativa e erro, o que normalmente ocorre quando os pacientes são incapazes de descrever com tanta precisão seu estilo de vida, necessidades auditivas ou definir com clareza os desafios que estão enfrentando na comunicação, tornando a experiência do paciente mais tranquila, prazerosa e positiva.
A jornada do paciente deve ser permeada por sensações que o façam desejar seguir adiante no processo de adaptação e aclimatização. O fonoaudiólogo deve ser o conselheiro inicial de confiança, para que a reabilitação tenha sucesso clínico. Seu papel não é impor uma solução, mas entender as reais necessidades do usuário, para abrir portas que o façam sentir-se à vontade para testar as diferentes possibilidades tecnológicas, além de encorajá-lo a vivenciar uma experiência acústica diversificada e desejável. A tenologia atualmente disponível nesses dispositivos, favorece essa interação entre usuário e profissional.
Quando um paciente sente-se feliz com os resultados obtidos com o uso da amplificação, ele encoraja-se a enfrentar situações de comunicação, outrora difíceis e frustrantes, compartilhando com seus amigos, familiares e colegas de trabalho o quanto beneficia-se de seu aparelho auditivo, além de reconhecer que seu fonoaudiólogo de referência realmente propôs-se a ouví-lo, colaborando para que ele chegasse a um bom resultado. Dessa forma, o paciente que tem em sua jornada uma experiência positiva, torna-se também um consultor de confiança em nome de seu fonoaudiólogo.
Raquel Munhoz, Fonoaudióloga Especialista em Audiologia Clínica e Responsável Técnica no Núcleo de Audiologia.
Referencias Bibliográficas: 1- Hayes D., PhD, McIntyre C. – Interviews / Hearing Aids Adults/Audiology Improved Insighits Enable Better Patient Experience; Audiology On line, junho 2016