Os benefícios de identificar e tratar da perda auditiva logo no início

Entenda o que acontece quando os nossos níveis de audição estão começando a cair e saiba quais são as vantagens de identificar a alteração auditiva e intervir imediatamente com uso de amplificação sonora.

Quando começamos a perder a audição é mais comum a restrição auditiva iniciar de forma lenta, insidiosa e quase imperceptível. Normalmente nós mesmos não nos damos conta de que temos alguma limitação auditiva. São as pessoas que convivem conosco, em nosso dia a dia, sejam membros da nossa família, os colegas de trabalho ou no nosso convívio com amigos, que acabam percebendo que há algo diferente em nosso comportamento.

Seja pelos momentos de desatenção, seja por alguns lapsos de memória, por situações em que parecemos alheios e desinteressados, ou mesmo por parecer que entendemos apenas as conversas quando são de nosso maior interesse, passamos a nos comportar de forma diferente e isso chama a atenção das pessoas.

Essas alterações em nosso comportamento diante das conversas, fazem com que alguns julgamentos comecem a surgir, em virtude da nossa má performance na comunicação.

Por outro lado a nossa percepção não é a de não estarmos ouvindo bem, mas sim de que “apenas” não entendemos algumas pessoas, seja pela maneira que elas falam e articulam as palavras, seja pelos ruídos que estão no entorno dos ambientes em que estamos conversando. Criamos dessa forma, uma barreira entre nós e nossos interlocutores, que vai além de estarmos ouvindo e entendendo bem, passa a ser um círculo vicioso, em que os julgamentos dos outros e as nossas justificativas deflagram pequenos conflitos, os quais geram desgastes nas nossas relações.

A repetição diária dessas dinâmicas ruins faz com que ocorra um stress nas nossas comunicações, a quebra nas nossas relações, e, sem nos darmos conta, passamos a optar pelas atividades que não envolvem a comunicação verbal e pelo silêncio, evitando os novos desafios que a comunicação em grupos nos impõem.

Deixar a comunicação de lado por sua vez, nos afasta das pessoas que amamos e daquelas do nosso convívio e isso gera a sensação de que estamos perdendo coisas boas. Perdendo o controle das conversas, o convívio das pessoas, as relações saudáveis e as alegrias da nossa vida. Sem nos darmos conta nos afastamos de tudo, das pessoas, dos prazeres da vida e optamos, quase que inconscientemente, pelo isolamento.

Numa a visão mais simples, pode nos parecer que o silêncio nos traz paz, já que ouvir os sons e entendê-los passa a ser um enorme desafio, uma tarefa cada vez mais trabalhosa, cansativa e muitas vezes até frustrante.

Entretanto, o afastamento do convívio das pessoas, o ato de abrirmos mão das atividades e dos sons que nos dão prazer, significa também abrir mão da alegria de ouvir e falar e isso não é algo saudável. 

A falta da audição e o isolamento caminham de mãos dadas e podem, em casos extremos, fazer-nos enveredar por caminhos que levam à depressão, perda de memória, à demência e/ou ao Alzheimer. Dessa forma é preciso reagir em tempo. Desejar fortemente manter os nossos vínculos com as pessoas e com as coisas que mais gostamos.

Viver bem é poder compartilhar nossos sentimentos, externar nossas emoções, sejam elas boas ou ruins, e nós, seres humanos, fazemos isso na maioria das vezes através dos nossos encontros e das nossas conversas com o outro.

O caminho mais saudável para romper esse ciclo de frustrações é vencer as barreiras que nos colocaram no silêncio. Primeiro precisamos entender o que está acontecendo com a nossa audição, e isso é possível com uma simples avaliação auditiva.

avaliação auditiva ajudará o profissional Fonoaudiólogo a identificar quais são os sons (sua frequência e intensidade) que já não estamos mais conseguimos perceber e nos direcionar ao médico otorrinolaringologista, que determinará quais serão as melhores formas de cuidarmos disso. 

Em caso de haver qualquer nível de perda auditiva, mesmo nas alterações de grau mínimo, já existem recursos tecnológicos, tal como aparelhos auditivos automáticos, estéticos e de fácil manuseio, para auxiliar-nos a resgatar a percepção dos sons. Se a recomendação médica for para o uso de aparelhos auditivos, não devemos hesitar, nem tampouco postergar o tratamento.

É importante estarmos abertos a experimentar e saber que, voltar a receber os estímulos auditivos que já não temos mais a capacidade de perceber sozinhos, é o melhor caminho para manter as nossas vias auditivas bem estimuladas, o cérebro funcional e plástico e a memória dos sons viva em nossa mente.

O sentido da audição além de nos manter em alerta, protegidos, permite-nos manter a comunicação verbal e sentir os prazeres de ouvir bem as conversas, a música e os nossos sons favoritos.

O segredo para vencer essa resistência em que o silêncio nos coloca é apostar na vida, nos relacionamentos, na beleza dos sons da natureza e nas alegrias que a convivência e que os sons que mais gostamos de ouvir que no traz.

Nós precisamos apenas entender que nossos familiares, amigos ou colegas de trabalho são os primeiros a nos alertar sobre isso e, dessa forma, estão sinalizando que há algo que não vai bem conosco e que se importam conosco.

Eles por sua vez, devem estar prontos para auxiliar-nos com complacência e ter uma dose extra de sensibilidade, paciência, empatia e conhecimento sobre as condições que a alteração auditiva nos coloca, ajudando-nos a contornar essa resistência, e incentivando-nos a buscar ajuda para melhorar a nossa qualidade de vida.

Cuidar da audição é cuidar de um dos nossos sentidos mais importantes, o sentido que nos mantém ligados ao mundo, conectados ao outro e apegados à vida.

Raquel Munhoz, Fonoaudióloga Especialista em Audiologia Clínica e Responsável Técnica no Núcleo de Audiologia.